Por Alisson, PR7GA
Existe um mal que tem afligido a muitos colegas e que está infelizmente se espalhando em nosso país. Chama-se METATESIOFOBIA. Dentre os sintomas dessa condição, encontramos mau humor, palpitações, ansiedade, e até isolamento e abandono do hobby, nos casos mais graves. Também são comuns mudanças drásticas de comportamento e até violência, em casos raros.
Existe um mal que tem afligido a muitos colegas e que está infelizmente se espalhando em nosso país. Chama-se METATESIOFOBIA. Dentre os sintomas dessa condição, encontramos mau humor, palpitações, ansiedade, e até isolamento e abandono do hobby, nos casos mais graves. Também são comuns mudanças drásticas de comportamento e até violência, em casos raros.
Metatesiofobia é, literalmente, o medo intenso e desproporcional de mudanças.
Não é apenas um temor. O medo de mudar aparece em nossa mente e tende a nos fazer recuar quando há a necessidade de adaptação, seja ela qual for.
Ao longo da história do Radioamadorismo, a Metatesiofobia tem aflorado entre nós em certas ocasiões em que paradigmas tiveram de ser superados. Novas tecnologias surgem o tempo todo, porém algumas sofrem naturalmente mais oposição que outras. Veladamente ou explicitamente, poucos de nós ficamos inteiramente à vontade quando nosso modus vivendi ou modus operandi é ameaçado.
Porém, o que não é normal é que a Metatesiofobia vá além da costumeira veia satírica que é absolutamente normal em todo brasileiro, já que "zoar" os outros parece ser uma verdadeira "arte" entre nós. Infelizmente alguns estão deixando a "zoeira" de lado e tornando uma saudável discussão regada a gargalhadas mútuas em uma briga com potencial de destruir amizades e até ameaçar o hobby.
Deixando de lado a psicologia (ou psicopatia rsrsrs), que não é a finalidade deste artigo, vamos, portanto, à razão de utilizarmos este "gancho":
Preconceito e ignorância
Certos radioamadores brasileiros, bravos com a mudança iminente que a eliminação do CW nos exames irá trazer para o Radioamadorismo, escolheram um alvo fácil: os praticantes de novas tecnologias ou modos de transmissão, como FT8, SDR, voz digital (DMR, D'STAR, C4FM, freedv, m17), etc. Em certos redutos mais "xiitas", defendem até não considerar verdadeiros Radioamadores aqueles que forem futuramente aprovados sem a exigência do CW.
Claro, o assunto está a anos luz de ser pacífico e encontramos um amplo espectro de posicionamentos, desde os que chamam os cedablistas de "jurássicos" até os que querem até criminalizar o uso de novas tecnologias. Evidentemente, entre os extremos há todo tipo de opiniões, normalmente divergentes entre si em maior ou menor grau.
Também é evidente que toda discussão ordeira é bem vinda, pois traz enriquecimento aos seus participantes, ainda que não hajam "conversões". Como dizia Nelson Rodrigues, “Toda a unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.
A crítica deste artigo não é contra aqueles que discutem, mas contra aqueles que fazem crítica destrutiva, que não admitem pensamentos diferentes dos seus, que se opõem a mudanças pelo simples fato de mudar. Sobretudo, contra aqueles que utilizam de deslealdade e falta de educação no trato com colegas Radioamadores, aqueles que agem como crianças mimadas que fazem birra por causa do "brinquedo novo do coleguinha que atraiu mais atenção do que o seu".
Cada um faz o que gosta
O Radioamadorismo é um serviço de telecomunicações regulamentado pela ANATEL com inúmeras aplicações, mas do ponto de vista de seus praticantes, é e sempre será um "hobby". Algo a ser praticado por gosto, por afinidade, e jamais como uma obrigação. Ninguém é obrigado a gostar de todas as modalidades e praticá-las. Cada um faz o que gosta, desde que aquilo seja amparado na legislação.
Não existe nenhuma dúvida de que modos digitais, dentre eles o tão falado FT8, sejam absoluta e completamente legais para serem utilizados pelos radioamadores, ainda que alguns desinformados ou mal intencionados queiram propagar a "fake news" de que é um modo baseado na internet.
Não, amigos, modos digitais são "raiz" tanto quanto usar um Deltão DBR550 numa rodada nos 80 metros em AM. Ambos utilizam APENAS a RF. A diferença está tão somente na tecnologia envolvida. Aliás, o próprio "Deltão" enfrentou preconceitos dos praticantes do AM quando foi lançado, assim como todos os equipamentos SSB.
Anos atrás, fazia todo sentido exigir-se o conhecimento do morse de todo e qualquer radioamador pelo simples fato de que o morse era uma das modalidades mais difundidas não só no radioamadorismo mas nas telecomunicações em geral. Até em aviões comerciais o morse era ativamente praticado para contatos entre controle de tráfego aéreo e aeronaves! Porém, como sabemos, este deu lugar a outros modos e tecnologias, mais adequadas aos novos tempos.
Da mesma forma que o morse teve seu auge, hoje em dia é tão ou mais importante sabermos usar um computador do que um "picapau". O que não tira, de forma alguma, a razão de existir e o "charme" deste último.
Claro, o morse é a mais simples forma de comunicação, e um transmissor de CW pode ser construído praticamente apenas com peças de sucata. Um computador ou um transmissor de SSB, nem tanto. Porém é muito mais produtivo e simpático falarmos das vantagens do Morse do que destilarmos puro veneno misturado com recalque tentando difamar modos dos quais não gostamos. Simples assim.
Aliás, é exatamente isso que afirma uma das perguntas que TODOS os radioamadores tiveram de estudar para passar nas provas, pelo menos desde 2008:
Ninguém é obrigado a gostar de tudo. Da mesma forma, ninguém deveria ser proibido de gostar de algo dentro de um hobby tão diversificado de possibilidades como o Radioamadorismo.
Que tal, ao invés de criticar o gosto dos outros, se cada um se dedicasse mais a aquilo que gosta no rádio? Creio que haveria muito mais atividade interessante nas faixas - incluindo o CW - e menos falatório inútil nas redes sociais...
VIVA O CW!
VIVA O FT8 (ou qualquer outro modo legítimo)!
VIVA O RADIOAMADORISMO!
Bônus: Exemplos de outras "brigas" que não levaram a nada
A recente rusga contra a eliminação do CW teve várias outra bastante similares sobretudo por não terem dado em nada. Aconteceram também coincidentemente em momentos-chave na história e evolução das telecomunicações e do Radioamadorismo.
CW versus Spark Gap (onda contínua versus faísca elétrica)
As ondas de rádio foram geradas pela primeira vez por meio de transmissores que utilizavam um arco elétrico, ou seja, uma faísca entre dois eletrodos. Era uma forma relativamente fácil de produzir sinais telegráficos que inauguraram a era dos transmissores sem fio. Porém, tinham uma grande desvantagem: Eram grandes devoradores de espectro, já que esse tipo de transmissor emite sinais numa gama bastante extensa de frequências, causando interferências entre estações próximas.
Com a invenção da válvula triodo por Lee de Forest em 1906 foi possível o desenvolvimento e a construção de transmissores que emitiam sinais numa única frequência, de forma contínua e limpa. Assim, o uso dos antigos transmissores a faísca foi sendo cada vez mais restrito. Porém muitos resistiam à mudança, sobretudo pelo custo. Até que uma proibição a nível mundial em 1934 tornou o uso dos antigos transmissores proibido, com exceção para chamados de emergência.
SSB versus AM
Ainda na época dos transmissores a faísca, a transmissão da voz humana ainda era um problema a ser resolvido, muito embora nosso patrono Pe. Landell de Moura já tivesse demonstrado publicamente e até patenteado uma forma de transmitir fonia com a tecnologia da época. Quando finalmente a modulação em amplitude (AM) tornou-se acessível, era possível ouvir não apenas os "dis" e os "dás", mas muitas vozes de radioamadores nas faixas.
Porém, uma nova forma de modulação surgia: o SSB, ou "banda lateral única". Ainda nos anos 1910, a existência de bandas laterais distintas da portadora no caso de transmissão em AM foi matematicamente demonstrada. Em 1915, a transmissão em SSB foi inventada pelo engenheiro da AT&T John R. Carson para uso em telefonia, pois permitiria um melhor aproveitamento dos sistemas de transmissão da época. Seu uso pelos radioamadores demorou a acontecer, sobretudo pela dificuldade de construção de circuitos para a transmissão dos sinais. A recepção era bem mais fácil.
Porém, nos anos 1950, após o final da II Guerra Mundial, a utilização do SSB pelos radioamadores se espalhou e causou provavelmente o primeiro embate entre os colegas. De um lado, a turma do AM debochava da "voz de pato" da transmissão em SSB e do alto custo dos transmissores, Do outro, o pessoal do SSB demonstrava as inúmeras vantagens do novo modo, incluindo eficiência em potência (um transmissor em AM requer 4 vezes mais potência que um transmissor de SSB para o mesmo alcance) e espectral (é possível ter ao menos duas vezes mais canais simultâneos numa determinada faixa de frequências em SSB do que em AM).
Valvulado versus estado sólido (transístores)
Como citamos anteriormente, a invenção das válvulas triodo marcou o início de uma revolução, não somente na forma como sinais de rádio eram produzidos, mas também em inúmeras outras aplicações. As válvulas inauguraram uma nova era: a dos equipamentos eletrônicos.
Porém, em 1947 o transistor foi inventado pelos físicos John Bardeen, Walter Brattain e William Shockley. Eram menores, muito mais eficientes que as válvulas e podiam ser miniaturizados, como a história provou décadas depois com os circuitos integrados.
Logo os puristas "denunciavam" a falta de linearidade do novo componente, reclamando da falta de "pureza" dos equipamentos de áudio e rádio fabricados com a nova tecnologia. Nos círculos radioamadores, os amantes das válvulas argumentavam o quanto estas eram confiáveis e robustas em relação aos transistores, especialmente no tanque final dos rádios (o que é verdade). Do outro lado, equipamentos transistorizados se tornavam cada vez populares, reduzindo seu custo e evoluindo para mitigar os problemas da tecnologia. Esta "guerra" ainda está presente até hoje em certos círculos, como o áudio "hifi".
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