Por Alisson, PR7GA

Há alguns dias, trouxemos um projeto de uma antena especial para a atividade chamada "caça à raposa", na qual um transmissor (a "raposa") é escondido em uma determinada área e "caçadores" tentarão encontrá-lo utilizando receptores e a dita antena, que carinhosamente chamamos de "ANTRENA". Veja o projeto aqui: https://qtc.ecra.club/2022/01/a-ANTRENA-construa-uma-direcional-com-fita-metrica.html

Porém, além deste uso lúdico e divertido, este projeto também se presta para usos muito mais sérios: caçar "pitimbadores", ou seja, pessoas que se deleitam em bagunçar os QSOs alheios, causando interferência, chamando palavrões, e praticamente impossibilitando o uso sadio de uma repetidora.

De fato, o projeto da "ANTRENA" é ideal para isso, já que foi desenhada para ter a melhor relação frente-costas possível para poder indicar a direção de onde está vindo determinado sinal. Além disso, o uso da fita métrica metálica a torna especialmente útil para facilitar seu uso móvel, permitindo entrar e sair do carro facilmente.

"DISCLAIMER"


Mas ATENÇÃO: Nosso papel é de ZELAR pelas nossas faixas e pelos caros recursos que nos ajudam a melhor utilizá-las, como as repetidoras. Não compete a nós o trabalho de fiscalização ATIVA ou de fazer cumprir a Lei de forma coercitiva. Não podemos "tomar as dores". Investigar e punir é coisa para a ANATEL. 

Porém, a Agência não fiscaliza nem "faz uma visita" sem que antes haja uma denúncia formal, e aí entra o objetivo final de uma "caça ao pitimbador", que é localizar seu QTH. Uma vez feito isso, é possível denunciá-lo à ANATEL, e aí, a Agência resolverá com ele.

O BÁSICO: COMO FUNCIONA UMA REPETIDORA


Antes de utilizar a ANTRENA para caçar "pitimbadores", é bom entender como uma repetidora funciona. 

A primeira coisa a entender é o que é "simplex" e o que é "duplex".

Fonte: https://hamradioschool.com/simplex-duplex-offset-and-split/simplex-duplex/


No Simplex, todas as estações recebem e transmitem na mesma frequência. Já no Duplex, são utilizadas DUAS frequências, uma para transmissão, e outra para recepção. Repetidoras SEMPRE trabalham em DUPLEX, no qual em uma frequência ela recebe os sinais das estações (chamada de frequência de ENTRADA) e em outra ela retransmite esses sinais, "repetindo-os" (chamada de frequência de SAÍDA). 

Você pode verificar isto facilmente observando o visor de seu rádio. Ao receber o sinal da repetidora, ele estará na frequência de SAÍDA. Quando você aperta o "PTT" para transmitir, o rádio automaticamente muda para a frequência de ENTRADA. Confira!

Os "pitimbadores" tentam interferir sempre na frequência de ENTRADA dos repetidores, pois se tentassem interferir na frequência de saída, jamais teriam sucesso. A razão é simples: uma repetidora sempre está melhor localizada do que 99,9% das nossas estações, e assim ela sempre "ganharia" do infrator. Para atrapalhar, esses "animais" transmitem sempre na frequência de ENTRADA, aonde poderá "ganhar" das outras estações se estiver próximo da repetidora ou se utilizar alta potência.

Assim, ao tentar rastrear um "pitimbador", você sempre sintonizará seu rádio na frequência de ENTRADA da repetidora que está sendo interferida, jamais na de saída. Do contrário, ao tentar achar o sujeito, na verdade você estará rastreando o QTH da repetidora!

Cuidado para não ouvir na frequência errada!


Muitos rádios têm um botão ou função que pode ser acionada para monitorar a frequência de entrada. Normalmente chama-se "REVERSE", ou "REV" (REVERSO), ou mesmo "MONI" (MONITOR). Quando acionado, automaticamente o rádio passará a ouvir a frequência de entrada da repetidora. É aí que devemos SEMPRE tentar ouvir o pitimbador. Consulte o manual de seu rádio para saber se ele tem esta função e utilize-a.

Exemplo do botão para ouvir a frequência de ENTRADA (ou REVERSO) da repetidora.


1. OUVINDO O "PITIMBADOR"


Ao monitorar a frequência de entrada, não será incomum você não ouvir absolutamente nada quando a repetidora estiver sendo utilizada. Dependendo dos equipamentos de sua estação, de sua localização, de sua antena, dentre muitos outros fatores, poderá acontecer (e quase sempre acontece) de você não ouvir os colegas e nem o pitimbador. Isto é muito normal, já que a repetidora serve exatamente para isso: permitir que estações que não "se envergam" possam manter contatos entre si. Em outros casos, você ouvirá algumas estações e outras não. 

Quando o "energúmeno" atacar, tente ouvi-lo. Dependendo dos fatores mencionados anteriormente, você poderá não ouvi-lo, mas ouvir o colega que está sendo interferido, caso ele esteja localizado próximo a você. Caso consiga ouvir o "pitimbador", ótimo! Significa que está dado o primeiro passo para "pegá-lo com as calças na mão"!

ATENÇÃO!


CUIDADO com repetidoras "linkadas", ou seja, interligadas entre si. Por conta desta ligação entre elas, o "pitimbador" poderá estar interferindo em qualquer uma das repetidoras que estiverem interligadas. É possível identificar facilmente isto observando os "beeps" que deverão ser ouvidos toda vez que o "filho de chocadeira" soltar o PTT. Dependendo da topologia dos links entre essas repetidoras, pode-se saber qual delas está sendo interferida. Converse com os mantenedores das repetidoras ou com colegas mais experientes ou peça ajuda de colegas que estejam na região abrangida por cada repetidora para tentar ouvir o "pitimbador" em cada uma delas e descobrir qual está sendo interferida.

2. FAZENDO A TRIANGULAÇÃO


Neste ponto sacamos nossa ANTRENA e partimos para tentar localizar em que direção está vindo o sinal do bagunceiro. Este é o passo mais trabalhoso, pois exigirá a cooperação do maior número possível de outras estações. Quanto mais colegas tentando localizar, mais precisa será esta localização. Para isto, será utilizada a técnica de TRIANGULAÇÃO.



Na ilustração acima, vemos duas estações, A e B, tentando localizar o transmissor T. Ao utilizarem antenas direcionais, como a ANTRENA, elas podem indicar a direção de maior nível de sinal. Ao colocarem essas direções num mapa local, o cruzamento delas dará a localização do transmissor, como podemos ver na ilustração.

Isto é conseguido "varrendo" a área, apontando a antena num giro de 360 graus, sempre observando o áudio ou o indicador de sinal do rádio e percebendo em qual direção o sinal do "animal" fica mais forte.

Detalhe: use a antena "de costas" também!


Um detalhe importantíssimo: a ANTRENA, como já foi dito, foi desenhada para ter excelente relação frente-costas. Isto significa que, se você apontar EXATAMENTE para o sentido contrário de onde o sinal vem, a antena praticamente vai parar de receber. 

Assim, para se ter certeza de que uma dada direção aponta para o máximo, deve-se medir também na direção oposta. Neste caso, o sinal deve sumir, já que a ANTRENA praticamente não recebe o sinal pelas costas, exceto se o sinal estiver muito forte. Para este detalhe, a solução mostraremos mais adiante.

Assim, você tanto pode usar a antena para descobrir de onde vem o sinal mais forte, ajudará muito colocá-la no sentido oposto (de costas) e assim ter uma indicação mais precisa, pois quando estiver girando e o sinal sumir, significa que o energúmeno estará naquela direção, mas "de costas" para você.

O local aonde fazer a triangulação


Para fazer a triangulação, o ideal é que se esteja num local aberto. Ao menos, no meio da rua, para evitar captar sinais espúrios ou mesmo o próprio sinal do pitimbador refletido em alguma superfície, os quais podem dar uma falsa indicação da direção.

Como segurar a ANTRENA


Normalmente a ANTRENA deverá estar na polarização vertical, ou seja, "em pé", na vertical. Você verá que, ao "deitar" a antena, o sinal cairá substancialmente.

Observe porém que a localização exata não será dada a menos que as estações caçadoras estejam próximas do transmissor. Quanto mais longe, menos precisa a triangulação.

Porém, a experiência mostra que qualquer "pitimbador" treme nas bases quando alguém menciona por exemplo o bairro ou região aonde ele está. Isto será possível com a colaboração dos colegas no entorno, utilizando suas antenas direcionais fixas ou a ANTRENA. Veja mais sobre isto adiante.

3. QUANDO NÃO É POSSÍVEL LOCALIZAR O PITIMBADOR


Em alguns casos, será um pouco mais difícil achar o energúmeno. Por exemplo, se ele estiver muito próximo das estações caçadoras, ou se utilizar muita potência, a técnica de triangulação falhará simplesmente porque não será possível indicar uma direção bem definida de onde o sinal vem. Isto acontece porque, quando o sinal é muito forte, não haverá nenhuma indicação, seja no medidor de sinal no visor do rádio, nem no áudio,  que mostre de onde o sinal vem. 

Alguns rádios de mesa contam com um botão chamado "RF GAIN" ou "ganho de RF". Ao DIMINUIR este ganho, você diminui a sensibilidade do equipamento e assim pode reverter este problema de excesso de sinal. Porém, nem todos os rádios tem esta função, especialmente os HTs.

O atenuador de RF


Neste caso, será preciso utilizar um "atenuador de RF". O que ele faz é diminuir o nível de sinal captado pela antena de tal forma que possamos perceber melhor de onde ele está vindo. Alguns rádios de mesa, a exemplo do RF GAIN, contam com esta função. Normalmente é um botão que, quando acionado, reduz drasticamente o nível de sinal. Mas, novamente, rádios simples não contam com esta função, incluindo os portáteis.

Felizmente, um atenuador é algo muito simples de montar. Veja o projeto do colega Z33T:




Veja o projeto montado:


Note que, no lugar de R4, existem DOIS resistores em paralelo de 150 ohms, o que resulta nos 75 ohms desejado.


Para mais detalhes do projeto, acesse a página original: https://www.qsl.net/z33t/rf_step_attenuator_eng.html

Como utilizar o atenuador


A operação é simples. Basta ligar o atenuador entre o rádio e a antena, tal como faríamos no caso de um medidor de ROE. Daí, acionando as chaves, obtém-se uma atenuação desejada, lembrando que mediante uma combinação das chaves é possível obter atenuações da ordem de 5dB até 35 dB. Quando maior este valor, maior será a atenuação. E quanto mais forte estiver o sinal do pitimbador, maior atenuação precisaremos para poder identificar sua direção.

Tente utilizar uma combinação de chaves que permita perceber o mais claramente possível a direção do sinal. Muita atenuação fará com que o sinal desapareça. Pouca atenuação não permitirá definir a direção correta. Vá ligando e desligando as chaves até conseguir o ponto adequado, que será quando você puder ver uma clara diferença no áudio ou no indicador de sinal do rádio quando fizer o giro de 360 graus com a antena.


4. FAZENDO O PENTE FINO


Seguindo os passos anteriores, é esperado que já possa ser delimitada uma área suficientemente pequena para que seja possível fazer buscas mais apuradas. Porém, em muitos casos isto não será necessário. Além disso, é preciso ter bom senso.

Muitas vezes estes desocupados se encontram em áreas cuja entrada pode colocar em risco a integridade física dos caçadores. Há locais nos grandes centros aonde nem mesmo a polícia entra impunemente. Assim, caso seja esta a situação em sua repetidora, é bom não bancar o herói e partir para a boa e velha tática de "jogar uma verde".

Fazendo o "animal" moder a isca


Quando o "fi duma égua" estiver na frequência praticando sua bagunça, comece a dar dicas de que sabe aonde ele está,  mas sem revelar muito logo de cara. Seja criativo. 

Digamos que a localização dele esteja no bairro X. Combine com outros colegas uma história qualquer. Por exemplo, que vão tomar uma gelada num determinado bar localizado naquele bairro. Diga algo como "Alô amigo (diga o nome do colega). Nesse fim de semana eu e a turma vamos passar no bar "tal" do Bairro X pra tomar uma cerva. Quer aparecer por lá?" e observe a reação do pitimbador. Depois vá aumentando a história, até revelar que vão lá pra pegar o "fi duma égua" que está bagunçando a repetidora. 

Nesse momento, há uma chance ENORME do sujeito subitamente desaparecer da frequência. E aí, vocês vão saber que estão na pista certa, caso ele resolva aparecer de novo. Porém a experiência mostra que a covardia destes indivíduos vai mantê-los longe da repetidora, ao menos por um tempo. 

Dicas


Algumas dicas gerais para lidar com bagunceiros:

  1. NUNCA, NUNCA, NUNCA discuta, insulte ou "dê corda" para um pitimbador. Isto simplesmente dará mais vontade a ele para continuar praticando seus atos ilícitos. Pessoas assim fazem o que fazem porque no fundo querem atenção, pois são frustradas e derrotadas na vida. Discutir ou insultar dará exatamente isso a elas: uma platéia.
  2. A melhor atitude para lidar com um pitimbador é: faça de conta de que ele não está lá. Controle-se, respire fundo e, mesmo com vontade de soltar os cachorros, tente continuar a conversa normalmente.
  3. Caso a interferência seja intensa o bastante para impedir totalmente a conversa, mantenha a calma, se despeça e saia da frequência.
  4. Aproveite e utilize a função REVERSE (REV) e monitore a frequência de entrada da repetidora, tentando ouvir o pitimbador. Tenha isso como hábito, especialmente se estiver móvel. Mesmo sem a ANTRENA, o fato de estar em movimento pode lhe fornecer informações bastante úteis.

CONCLUSÃO


Identificar "pitimbadores" não é impossível, mas requer determinação. Neste simples artigo tentamos mostrar uma forma simples que qualquer radioamador com um simples "BAOFENG" poderá utilizar para tentar "limpar" uma repetidora, um bem coletivo que, mesmo mantido por poucas pessoas, beneficia a TODOS os radioamadores e, em caso de necessidade, a toda a sociedade.


Receba em primeira mão as notícias publicadas no QTC da ECRA!

Se você usa Whatsapp, acesse ZAP.ECRA.CLUB
Se você usa Telegram, acesse TELEGRAM.ECRA.CLUB
Ou siga o QTC da ECRA no Twitter: TWITTER.COM/QTCECRA

2 Comentários

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem