Por Dr. Tony Phillips. Traduzido por Alisson, PR7GA
 

Podemos entender o quão forte é uma explosão solar quando até mesmo a espaçonave Voyager consegue sentir os seus efeitos. Vinte e dois anos atrás, em 14 de julho de 2000, o sol "espirrou", gerando uma explosão tão forte que foi sentida nos limites do sistema solar.

A Terra ficou bem no caminho explosão, que foi denominada de “Evento do Dia da Bastilha” porque aconteceu no famoso dia comemorativo da França. Partículas subatômicas aceleradas pela erupção atingiram os satélites em órbita e penetraram profundamente na atmosfera da Terra. Sensores de radiação na superfície da Terra registraram um raro GLE – um “evento no nível do solo”.

Acima: imagens obtidas pelo SOHO (Observatório Solar e Heliosférico da NASA) da explosão solar. Do lado esquerdo, vemos o Dia da Bastilha (esquerda) e no lado esquerdo, a CME (ejeção de massa coronal). O efeito de "chuvisco" que vemos nas imagens é resultado de prótons energizados atingindo a sonda espacial.

Pessoas que estavam voando em jatos comerciais em altas latitudes teriam recebido o dobro da dose de radiação usual”, diz Clive Dyer, do Centro Espacial da Universidade de Surrey, em Guildford, Reino Unido, que estuda clima espacial extremo. “Foi um evento bastante energético – um dos mais fortes dos últimos 20 anos.

Um dia depois, em 15 de julho, a CME (ejeção de massa coronal) chegou até nós e desencadeou uma tempestade geomagnética extrema (Kp=9). O sol tinha acabado de se pôr na costa leste da América do Norte quando as primeiras auroras apareceram no céu, evidenciando a chegada das partículas.

“Eu estava no quintal fazendo alguma coisa e vi auroras vermelhas brilhantes no céu”, lembra Uwe Heine, do Condado de Caswell, Carolina do Norte. “Chamei nossa vizinha, Carrie, que também estava do lado de fora. Eu disse a ela que aquilo não era o pôr do sol. Tinha sido uma aurora, algo super raro de se ver tão ao sul!

Acima: Auroras em 15 de julho de 2000. Créditos: à esquerda, Grant Privett de Farnborough, Reino Unido e, à direita, espaçonave IMAGE da NASA.

Em Nova York, o céu explodiu em luz, lembra Lou Michael Moure. “Eu morava em Long Island na época. Um familiar entrou correndo no meu quarto e pedindo pra ver 'o céu pegando fogo'. O céu realmente parecia estar em chamas. Tons de branco e verde que deram lugar a vermelhos cobriam os céus de um lado a outro.

Quando finalmente a tempestade acabou, em 16 de julho, as auroras foram avistadas até o sul do Texas, Flórida e México.

Outras tempestades da Era Espacial foram também bastante fortes, mas o Evento do Dia da Bastilha é especial para os pesquisadores. Foi a primeira grande tempestade solar que aconteceu após o lançamento do SOHO, o Observatório Solar e Heliosférico. Os dados do revolucionário e então jovem satélite trouxeram rápidas e maciças lições aos pesquisadores sobre a física das explosões solares extremas.

Acima: Uma simulação moderna da explosão do Dia da Bastilha. Crédito: Tibor Török et al., The Astrophysical Journal, 856:75 (22pp), 2018, 20 de março.

Tibor Török, da Predictive Science, Inc., é um dos muitos pesquisadores que ainda estudam o Evento da Bastilha, mesmo décadas depois de ter ocorrido. “O evento aconteceu próximo ao centro do disco solar, então pudemos ter uma ótima visualização”, diz ele. Török recentemente aplicou um modelo  computacional magnetohidrodinâmico (MHD) moderno a alguns dos dados e descobriu que 1033 ergs (unidade de energia) de energia magnética foram liberados na explosão – aproximadamente a mesma energia de um trilhão de bombas atômicas da Segunda Guerra Mundial.

Não é à toa que as espaçonaves Voyager sentiram os efeitos da explosão.

A CME do Dia da Bastilha levou meses para alcançar as espaçonaves. A Voyager 2 pôde senti-la 180 dias depois, enquanto que a Voyager 1 levou 245 dias. Estando perto da borda do sistema solar, ambas as espaçonaves estavam naturalmente banhadas em altos níveis de raios cósmicos. A CME literalmente "varreu" essa radiação ambiente, criando uma redução temporária em seus níveis habituais chamada “Forbush Decrease”. Os níveis só voltaram ao normal 3 a 4 meses depois, quando finalmente a tempestade acabou.

Poderia outro evento parecido com o Dia da Bastilha estar próximo? O Ciclo Solar 25 está em plena ascensão, e o pico de atividade solar é prevista para ocorrer em 2025. Fiquemos atentos.

Para mais fotos da aurora, veja estas de Ronnie Sherrill de Troutman, Carolina do Norte





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