Por Tom Nardi. Traduzido por Alisson, PR7GA


A ideia que as pessoas normalmente têm a respeito de um radioamador, supondo que elas saibam o que a palavra significa, provavelmente é a de um sujeito de barba grisalha mexendo nos botões de algum rádio grande e antigo nas primeiras horas da manhã. É uma cena que, sejamos francos, não está muito distante da realidade em certos casos Mas também é uma generalização grosseira que não faz jus ao hobby e também não ajuda quando se trata de atrair os jovens.

Na realidade, o kit de ferramentas de um radioamador moderno está bem distante daquele rádio valvulado de seu avô construído por ele mesmo a partir de um kit. E existem muitas novas possibilidades no horizonte. Para garantir que o radioamadorismo tenha um futuro brilhante pela frente, essas tecnologias precisam ser estimuladas e suas aplicações precisam ser divulgadas. E ao mesmo tempo precisamos combater os estereótipos que possam desestimular os mais jovens de se interessarem pelo hobby.

Na vanguarda desses esforços está a Amateur Radio Digital Communications (ARDC) , uma fundação privada dedicada a apoiar as comunicações digitais no Radioamadorismo com bolsas de estudo, programas educacionais e projetos técnicos promissores de código aberto. Para o Hack Chat desta semana, a Diretora Executiva da ARDC, Rosy Schechter (KJ7RYV) e o chefe de equipe John Hays (K7VE) estiveram conosco falando sobre o futuro do rádio e das comunicações digitais.

Rosy deu o pontapé inicial com uma breve visão geral da interessante história da ARDC. A história começa em 1981, quando Hank Magnuski (KA6M) percebeu que as então recentes redes radioamadoras de radiopacote poderiam se beneficiar com um bloco de endereços IP exclusivo. Naquela época, a ideia de que os endereços IP poderiam se esgotar era quase inimaginável, e assim ele não teve problemas para solicitar e proteger 16,7 milhões de IPs para uso exclusivo dos radioamadores. Esse bloco de endereços, conhecido como AMPRNet e depois 44Net, foi administrado por voluntários até que a ARDC foi formada em 2011 e assumiu a propriedade deles. Em 2019, foi tomada a decisão de vender cerca de quatro milhões destes endereços IP e os recursos obtidos com a venda foram destinados a um fundo que hoje financia os programas da fundação. Saiba mais neste endereço. Este vídeo também fala sobre a organização e como ela escolhe e financia os projetos.

Então para onde vai o dinheiro? O ARDC mantém um registro de doações que dá uma boa ideia do foco dos projetos financiados. A fundação ajudou a financiar o desenvolvimento do software GNU Radio, apoiou o desenvolvimento de CubeSats de hardware aberto da Radio Amateur Satellite Corporation (AMSAT) e destinou recursos para que a Rede de Emergência Sem Fio de São Francisco pudesse melhorar as comunicações em áreas propensas a incêndios florestais. Eles também doaram 1,6 milhão de dólares para a restauração do radome de 5,5 m MIT Radio Society.

De todos os beneficiários de recursos da ARDC, o projeto M17 despertou o maior interesse durante o Chat. Esta comunidade de desenvolvedores de código aberto e radio-entusiastas está desenvolvendo um protocolo de rádio digital de última geração para dados e voz que é livre de patentes e royalties. Em suas próprias palavras, o foco do projeto M17 é “criar um hardware de rádio que possa ser copiado e construído por qualquer pessoa, um software que qualquer pessoa tenha liberdade para modificar e compartilhar de forma a atender suas próprias necessidades e outros sistemas abertos que respeitem a liberdade de modificar”. Eles são com certeza o tipo de gente que nós [do hackaday.com] procuramos. Nós falamos sobre eles pela primeira vez em 2020 e nosso desejo é vê-lo crescer ainda mais.

John diz que a fundação tem aproximadamente US$ 6 milhões a cada ano para distribuir e que, embora certamente não faltem projetos interessantes para apoiar, eles estão sempre procurando novos candidatos. As regras para financiamento estão sendo refinados, mas há pelo menos um requisito rígido para qualquer projeto que queira ser financiado pelo ARDC: deve ser de código aberto e disponível para a comunidade radioamadora em geral.

Obviamente, toda essa nova tecnologia é dispensável se não houver ninguém para usufruir dela. Todos sabem o quanto é difícil atrair os jovens para o radioamadorismo e, francamente, não é difícil entender a razão. Se um adolescente hoje quiser entrar em contato com qualquer pessoa no planeta ele rapidamente pegará seu smartphone. Assim, fazer as provas e receber uma licença de radioamador não tem o mesmo fascínio que teve para as gerações anteriores.

Dependendo de quantos anos você tem, a cena acima pode ter sido uma das mais emocionantes de Stranger Things.


O resultado final é que o conhecimento sobre nosso hobby entre os jovens é baixo. Durante o bate-papo, um participante contou como precisou dar pausa enquanto assistia Stranger Things, da Netflix, para poder explicar ao filho adolescente como os personagens que viviam nos anos 1980 conseguiam se comunicar a longas distâncias usando um rádio caseiro. 

Pense nisso por um minuto - numa série sobre criaturas horripilantes de outra dimensão invadindo nosso mundo, a coisa mais difícil para esse jovem entender era o fato de um grupo de adolescentes conseguir manter contato uns com os outros sem a ajuda da Internet ou de linhas telefônicas.

Assim, não é surpresa que John diga que a ARDC está procurando ativamente programas que possam ajudar a melhorar a popularização do Radioamadorismo. A fundação está procurando não apenas atrair os jovens, mas também alcançar grupos que tradicionalmente eram sub-representados no hobby. 

Como exemplo, ele aponta para uma doação concedida ao Bridgerland Amateur Radio Club (BARC) no ano passado para melhorar seu programa de engajamento de jovens. Os recursos foram destinados à montagem de um equipamento portátil que permita aos alunos se comunicarem com a Estação Espacial Internacional e ao desenvolvimento de oficinas práticas onde os adolescentes poderão lançar, rastrear e recuperar equipamentos lançados em um balão de alta altitude. 

Agradecemos não apenas a Rosy Schechter e John Hays por participarem do Hack Chat desta semana, mas também aos demais membros da Amateur Radio Digital Communications por seu trabalho de apoiar o presente e o futuro do Radioamadorismo e da comunicação digital.

Leia a transcrição da conversa que aconteceu no chat clicando aqui e aqui.

Sobre o Hack Chat


O Hack Chat é uma sessão de bate-papo online semanal da qual participam os principais especialistas de todos as áreas do universo hardware hacker. É uma ótima forma dos hackers se conectarem de uma maneira divertida e informal, mas se você não puder participar ao vivo, tanto as postagens gerais quanto as transcrições postadas no Hackaday.io não vão te deixar perder nada.







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