Arqueólogos que procuravam os resquícios de uma vila romana perto da cidade alemã de Colônia encontraram algo inesperado. Ao invés de vestígios de 2000 anos atrás, um sofisticado transceptor de rádio soviético para uso em espionagem, enterrado naquele local pouco antes da queda da chamada Cortina de Ferro.


O rádio espião estava muito bem acondicionado dentro de uma grande caixa de metal, que por estar ainda hermeticamente fechada, o preservou da ação do tempo. Embora suas baterias estivessem esgotadas após mais de 30 anos debaixo do chão, o rádio estava praticamente novo, como se tivesse saído da fábrica. Ele estava envolto em papel alumínio.


O inesperado achado aconteceu em agosto de 2019 e foi protagonizado por uma equipe de arqueólogos que faziam escavações perto da Floresta Hambach, cerca de 30 quilômetros a oeste de Colônia, em uma área de mineração de carvão a céu aberto. Eles esperavam encontrar fragmentos de um povoado da era romana que se pensava ter sido construído na área e, por isso, ficaram surpresos ao desenterrar a caixa de metal. 

O equipamento foi identificado como sendo um transceptor modelo R-394KM - codinome "Strizh", que significa "Veloz". Foi fabricado na União Soviética em 1987 e transportado provavelmente por espiões até a então Alemanha Ocidental apenas alguns anos antes do fim da chamada "Cortina de Ferro" que dividia a Europa Oriental e Ocidental, entre 1989 e 1991.
O rádio acondicionado em sua maleta de transporte
Acredita-se que os espiões comunistas teriam usado o equipamento para enviar relatórios secretos à União Soviética sobre o Centro de Pesquisa Nuclear de Jülich, a cerca de 10 quilômetros a oeste de onde foi encontrado, ou então, da base aérea militar de Nörvenich, que está à mesma distância a sudeste, onde, até 1995, os EUA mantinham armazenados seus mísseis nucleares Pershing.

Outra possível explicação para a ocultação do rádio seria um possível uso no futuro por parte da polícia secreta da então Alemanha Oriental, a temida "Stasi", ou mantê-lo como reserva caso outros rádios utilizados por espiões fossem danificados ou apreendidos. Apesar destas suposições, o rádio encontrado provavelmente nunca foi utilizado, dado o estado excelente no qual se encontrava.

O site Crypto Museum nos deu mais detalhes do seu funcionamento. Tecnicamente, o rádio era um transceptor capaz de operar entre 1500 kHz a 15000 kHz, com ajustes de frequência diferentes para RX e TX. Seu transmissor emitia 15W de potência PEP e era equipado com um acoplador de antena embutido. Como antena, era utilizado um fio longo (long wire) e um contrapeso de RF. No próprio aparelho havia uma tabela com os comprimentos de fio adequados a cada faixa.


Antena que vinha com o rádio

O equipamento operava em fonia (AM), telegrafia e digital. Este último era usado para transmissões ultra rápidas de alta segurança, nas quais o sinal é modulado em uma subportadora. Ao transmitir, ele permitia armazenar sequências de 5 números, chamados "datagramas", que eram um código secreto utilizado pelos russos para enviar e receber mensagens secretas. Esses números eram transmitidos em telegrafia, seja manual por meio de uma chave embutida, seja gerada pela chave automática. 

Outra forma se transmissão era o modo digital por modulação de fase. Assim, ele poderia enviar os códigos numa velocidade de transmissão de até 835 números por minuto, o equivalente a 167 datagramas em 60 segundos. Sua unidade central continha uma memória capaz de guardar centenas de códigos. Veja abaixo uma amostra do sinal produzido pelo transceptor espião (créditos: Crypto Museum):


Seu receptor, graças ao avançado sistema de armazenamento, era capaz de funcionar completamente sozinho. O equipamento armazenava as mensagens recebidas para que o espião pudesse vê-las depois, por meio de um display numérico. Era alimentado com baterias que vinham com ele, ou então, por qualquer outra fonte de 12V a 13,8V, como baterias de carro.

Com um equipamento destes, um espião poderia ser capaz de transmitir e receber mensagens num raio de até 1.200 km, o que o permitiria alcançar a cidade de Varsóvia na Polônia por exemplo, que fazia parte do bloco soviético.





Ao contrário da maioria dos outros rádios do mesmo modelo que sobreviveram até os dias de hoje, os controles do rádio encontrado na área da Floresta Hambach são escritos em inglês e no alfabeto romano, ao invés do russo usando o alfabeto cirílico, que era o padrão. Ele hoje pode ser visto pelo público, pois se encontra em exibição no Museu LVR-Landes na cidade de Bonn até 29 de março.







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3 Comentários

  1. O trabalho de espionagem é fascinante. Desenvolveu muito o efeito camuflagem.

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  2. Curioso, para ser un transceptor espía ruso tiene todo escrito en ingles. Supongo que para la antigua RDA lo ponían en ingles por el desconocimiento del idioma ruso.

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