A primeira mensagem enviada pelos pontos e traços do código Morse foi transmitida a partir de Washington, DC, para Baltimore na sexta-feira, 24 de maio de 1844 - há 175 anos. Foi a primeira vez na história humana que ideias puderam ser comunicadas a longas distâncias quase instantaneamente.  Até então, as únicas formas de se comunicar à distância eram enviar mensagens codificadas através de tambores, sinais de fumaça ou sistemas de bandeirolas, ou através da imprensa.

Samuel FB Morse inaugurou a era da informação. Ele inventou o telégrafo elétrico em 1832, mas só seis anos depois ele padronizou um código para se comunicar através de fios telegráficos. Em 1843, o Congresso concedeu-lhe 30 mil dólares para construir uma linha telegráfica unindo a capital do país e a vizinha Baltimore, e por meio dela ele transmitiu a frase que se tornaria célebre: "what hath god wrought". 

Naquela época, o telégrafo dependia de fios elétricos, mas no final do século 19, o aparecimento do rádio revolucionou a telegrafia, que poderia ser transmitida sem os fios. A indústria naval apreciou sobremaneira a inovação, ao ponto de ser promulgada uma lei em 1910 que exigia a presença dos moderníssimos rádios em qualquer navio que navegasse em águas americanas.



Depois que o Titanic afundou em 1912, um acordo internacional foi mais além, pois exigia que alguns navios mantivessem pessoas para monitorar sinais de socorro 24h por dia, além de definir que o sinal SOS seria o padrão para declarar pedido de socorro. Somente em 1995 a Guarda Costeira descontinuou este monitoramento, seguido pelos demais navios em 1999. Mesmo assim, a Marinha dos EUA ainda mantém marinheiros aptos a ler, enviar e receber código Morse até hoje. Aviadores também usam código Morse, embora só agora os beacons que transmitem 24h por dia estejam sendo desligados. Mas entre nós, os radioamadores, o código morse continua vivo e despertando curiosidade e novos adeptos até hoje.

Como seus sinais são tão simples - ligados ou desligados, longos ou curtos - o código Morse também pode ser usado com luzes piscando. Muitas marinhas ao redor do mundo usam luzes intermitentes para se comunicar de navio para navio quando não querem usar rádios ou quando o equipamento de rádio está inoperante. A Marinha dos EUA está testando um sistema que permite ao usuário digitar palavras e convertê-las em luz intermitente. Um receptor leria os flashes e os converteria novamente em texto.

Talvez a história mais conhecida envolvendo o código Morse tenha sido a do piloto da marinha Jeremiah Denton, quando esteve aprisionado durante a guerra do Vietnã. Em 1966 Denton foi obrigado pelos vietcongues a dar uma entrevista na TV sobre seu tratamento para disfarçar as condições desumanas sob as quais estava sendo mantido. Enquanto a câmera focalizava seu rosto e ele falava que estava feliz por se bem tratado, ele começou a piscar os olhos para, em código morse, transmitir a palavra “tortura”, confirmando pela primeira vez os temores dos EUA sobre o tratamento dos membros do serviço mantidos em cativeiro no Vietnã do Norte.

Piloto Jeremiah Denton durante a entrevista que tornou pública a tortura pela qual vinha passando por parte dos vietcongues.

Mesmo hoje em dia, onde smartphones e redes sociais tornam a comunicação extremamente simples, o código morse tem ajudado pessoas com dificuldades de comunicação a expressarem suas ideias. Há relatos de pacientes severamente debilitados que conseguem utilizar o morse para se comunicarem. Até o próprio google mantém um teclado morse que pode ser instalado em qualquer celular Android de forma a poder ser utilizado dessa forma.

Relógio inteligente com o teclado morse instalado, pronto para ser utilizado para enviar uma mensagem

Por essas e outras questões, com muita alegria damos os parabéns a todos os telegrafista do mundo, e em especial, a todos os radioamadores que mantém até hoje o primeiro código binário da história da humanidade e a mais simples forma de comunicação à distância que existe. Viva o Morse!

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