Por Alisson, PR7GA

Na última matéria, em que relatamos os abusos cometidos por certos radioamadores que estão até induzindo ao erro a ANATEL, muitos questionaram que estávamos desmerecendo ou até condenando o uso do Zello ou do IVG. De forma alguma!

Em nenhum momento, naquele texto, afirmamos ou deixamos nas entrelinhas qualquer tipo de desestímulo, censura ou juízo de valor sobre estes sistemas. Pelo contrário, como foi mencionado na matéria, seu uso é regulamentado no Brasil no caso do IVG, e, dentro do sistema, a ANATEL não se importa se usamos echolink, zello, discord, ou qualquer outro sistema VoIP, desde que sejam respeitados os princípios éticos que regem o radioamadorismo, bem como as regras que estão descritas na legislação vigente.

Echolink


O Echolink foi o primeiro sistema a ser utilizado em larga escala para tráfego de QSOs de voz pela internet. Ele foi criado por um Radioamador, o K1RFD – Jonathan Taylor, e como o nome diz, a princípio foi pensado para interconexão de repetidoras, especialmente quando links comuns, via rádio, não permitiam essa interconexão ou eram dispendiosos demais. Depois, o Echolink evoluiu para o atual formato com a utilização de um aplicativo para celular e a popularização de links individuais, não ligados a repetidoras.

Zello


Já o Zello pertence a uma empresa e seu objetivo é comercial. Por isso, a facilidade de uso é um ponto chave. Sua popularização junto aos radioamadores brasileiros tem sido grande também por este fator. É fácil entrar no sistema, bastando instalar o aplicativo. O cadastro é simples e imediato. A interface é limpa e permite funcionalidades bem interessantes, como um histórico de mensagens recebidas que pode ser usado para verificar quem modulou e aonde modulou, etc.

O Zello é um sistema robusto, poderoso e fantástico. Porém, como não foi pensado para uso por radioamadores, carece de recursos que o Echolink tem, sendo o principal deles a questão da segurança. Não é possível sequer fazer login na rede Echolink sem antes ser habilitado para isso mediante apresentação da licença válida aos mantenedores. O Zello não tem isso, embora hajam meios de ter uma camada mínima de segurança que impeça que usuários comuns, não radioamadores, consigam falar nos links. Se não houver essa camada de segurança, aqueles que mantém links, sejam individuais, sejam linkados a repetidoras, podem ser responsabilizados por permitirem que pessoas não habilitadas façam uso de suas estações.

Outro recurso superimportante que o Echolink tem é a auto-identificação. A legislação brasileira exige que o radioamador, ao transmitir, se identifique. Igualmente, se esse radioamador mantém um link, este link precisa identificar-se com o indicativo de seu mantenedor. No Echolink isto pode ser feito com a identificação periódica em telegrafia, de forma similar à feita pelas repetidoras, ou com uma mensagem de áudio pré-gravada. Já o Zello obviamente não conta com este recurso e isto é um problema, já que links que o utilizam PRECISAM se identificar para operarem legalmente.

Cabe aqui uma ênfase. Nenhuma estação radioamadora pode ser operada sem identificação, e isto inclui os links. Aqueles que queiram utilizar o Zello para conectarem-se PRECISAM implantar algum tipo de recurso que identifique sua estação, sob pena de incorrer em infração:

Art. 41. Não poderá o radioamador operar estação sem identificá-la. Fonte: Res. 449/2006 ANATEL 


Quadro comparativo entre Zello e Echolink 


FUNÇÃO

ZELLO

ECHOLINK

Criador

Empresa (app comercial)

Radioamador

Jonathan Taylor, K1RFD

Uso

Fácil de instalar e usar

Relativamente difícil

Cadastro

Imediato e aberto

Depende de aprovação mediante envio da licença

Acesso por não radioamadores

Sim, é público

Possível configurar para restringir acesso

Não é permitido

Auto-identificação para links

Não tem

Tem

Qualidade de áudio

Excelente

Mediana

Uso de dados

Moderado

Mínimo

Capacidade de ser controlado remotamente

Não tem

Tem 

(ligar/desligar o link, dentre várias outras funções)

Recursos de administração

Participantes podem ser divididos em várias classes de usuários

Somente usuários administradores ou comuns

Gravação automática das transmissões

Tem

Não tem na versão em Windows;

Tem na versão SVXLINK (Linux)

Integração com os contatos salvos no celular

Tem

Não tem


Sugestões para corrigir os problemas apontados


1. Colocar nome e indicativo visíveis no aplicativo

Com relação à questão da segurança, uma sugestão inicial seria exigir que todo radioamador mantenha seu nome e indicativo visíveis dentro do aplicativo. Por exemplo, escrevendo "Fulano de tal (indicativo)" como o seu nome. Isso seria um primeiro passo. Além de podermos filtrar rapidamente quem não é radioamador, essa simples medida ajudaria a nos identificarmos mutualmente quando participamos de uma rodada, por exemplo. Veja abaixo como proceder:




2. Utilização de senha

Uma medida um pouco mais eficaz seria utilizar o recurso de senha do aplicativo. Com isso, somente pessoas que a conheçam poderão ingressar num link, solução similar ao SUBTOM, que utilizamos no mundo analógico para diminuir interferências ou dificultar que clandestinos usem nossas repetidoras. Porém, o uso de senha pode tornar-se um problema, pois nada impede que ela seja compartilhada e divulgada, tornando-a, portanto, inócua. Neste caso, a troca de senha também provocaria transtorno, pois os atuais usuários do sistema precisariam ser avisados um a um da mudança.


3. Utilização do recurso "Zelect"

Este é o recurso mais eficaz para garantir um mínimo de segurança a um link. Chama-se "Zelect" e, quando ativado, faz com que as pessoas que entrem no canal só possam falar e ser ouvidas pelos demais participantes após serem APROVADAS. Isso requer um trabalho manual, mas vale o esforço. 

Desta forma, qualquer novo usuário que entre pode até apertar o PTT e falar, mas não será ouvir pelos demais, apenas pelos moderadores, que poderão orientar à pessoa diretamente a identificar-se, caso seja radioamador, ou permanecer apenas ouvindo, caso não seja. Para acionar este importante recurso, é bastante fácil. Veja:



3. Utilização de uma placa controladora simples

Há no mercado diversos fabricantes, inclusive radioamadores, que fabricam uma simples placa controladora que fornece a identificação periódica e necessária para que o link seja devidamente e legalmente identificado. Dentre eles, podemos citar a do PY5BK (clique aqui) e a do PY2JF (HAMTRONIX). Ambas permitem inserir o indicativo da estação que será transmitido a intervalos regulares.

Existem soluções "home made" que o próprio radioamador pode construir em casa, se quiser. Por exemplo, este projeto do colega italiano IZ3MEZ é bastante completo.


4. Utilizar um arquivo de áudio tocando em modo repetição no celular

Outra solução, mas que para funcionar dependeria de como o link está montado, seria criar um arquivo de áudio contendo a identificação e mais um período de silêncio. Por exemplo, o sinal em morse ou áudio com o indicativo, mais dez minutos de silêncio em seguida. O arquivo de áudio, portanto, teria pouco mais de dez minutos de duração. É fácil criar este arquivo com algum aplicativo de áudio como o Sound Forge ou o Audacity.

Uma vez criado, o "truque" seria deixá-lo tocando no celular em algum aplicativo de música com a função de repetição ligada. Assim, com o arquivo sendo tocado em segundo plano, o áudio do Zello seria automaticamente mesclado ao áudio da identificação, que seria ouvida a cada dez minutos. Porém, para funcionar, o rádio acoplado ao celular deveria estar sendo acionado por meio do VOX.


Conclusão 


Apesar dessas deficiências apontadas neste artigo, novamente afirmamos que o Zello é uma ótima solução para uso pelos radioamadores, mas desde que estas deficiências sejam sanadas. E não é difícil fazer isso.


O radioamadorismo SEMPRE esteve na vanguarda do desenvolvimento das telecomunicações. Na era moderna, aonde a informática exerce um papel fundamental na nossa vida, o radioamadorismo pode e deve apropriar-se dessas novas tecnologias para suprir necessidades dentro do hobby e isto é muito bom. Só é preciso cuidado com pequenos detalhes que, se desprezados, podem pôr a perder tudo que foi conquistado.

73 e VIVA O RADIOAMADORISMO!


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