Na última matéria, em que relatamos os abusos cometidos por certos radioamadores que estão até induzindo ao erro a ANATEL, muitos questionaram que estávamos desmerecendo ou até condenando o uso do Zello ou do IVG. De forma alguma!
Echolink
O Echolink foi o primeiro sistema a ser utilizado em larga escala para tráfego de QSOs de voz pela internet. Ele foi criado por um Radioamador, o K1RFD – Jonathan Taylor, e como o nome diz, a princípio foi pensado para interconexão de repetidoras, especialmente quando links comuns, via rádio, não permitiam essa interconexão ou eram dispendiosos demais. Depois, o Echolink evoluiu para o atual formato com a utilização de um aplicativo para celular e a popularização de links individuais, não ligados a repetidoras.
Zello
Já o Zello pertence a uma empresa e seu objetivo é comercial. Por isso, a facilidade de uso é um ponto chave. Sua popularização junto aos radioamadores brasileiros tem sido grande também por este fator. É fácil entrar no sistema, bastando instalar o aplicativo. O cadastro é simples e imediato. A interface é limpa e permite funcionalidades bem interessantes, como um histórico de mensagens recebidas que pode ser usado para verificar quem modulou e aonde modulou, etc.
Outro recurso superimportante que o Echolink tem é a auto-identificação. A legislação brasileira exige que o radioamador, ao transmitir, se identifique. Igualmente, se esse radioamador mantém um link, este link precisa identificar-se com o indicativo de seu mantenedor. No Echolink isto pode ser feito com a identificação periódica em telegrafia, de forma similar à feita pelas repetidoras, ou com uma mensagem de áudio pré-gravada. Já o Zello obviamente não conta com este recurso e isto é um problema, já que links que o utilizam PRECISAM se identificar para operarem legalmente.
Art. 41. Não poderá o radioamador operar estação sem identificá-la. Fonte: Res. 449/2006 ANATEL
Quadro comparativo entre Zello e Echolink
FUNÇÃO | ZELLO | ECHOLINK |
Criador | Empresa (app comercial) | Radioamador Jonathan Taylor, K1RFD |
Uso | Fácil de instalar e usar | Relativamente difícil |
Cadastro | Imediato e aberto | Depende de aprovação mediante envio da licença |
Acesso por não radioamadores | Sim, é público Possível configurar para restringir acesso | Não é permitido |
Auto-identificação para links | Não tem | Tem |
Qualidade de áudio | Excelente | Mediana |
Uso de dados | Moderado | Mínimo |
Capacidade de ser controlado remotamente | Não tem | Tem (ligar/desligar o link, dentre várias outras funções) |
Recursos de administração | Participantes podem ser divididos em várias classes de usuários | Somente usuários administradores ou comuns |
Gravação automática das transmissões | Tem | Não tem na versão em Windows; Tem na versão SVXLINK (Linux) |
Integração com os contatos salvos no celular | Tem | Não tem |
Sugestões para corrigir os problemas apontados
1. Colocar nome e indicativo visíveis no aplicativo
Com relação à questão da segurança, uma sugestão inicial seria exigir que todo radioamador mantenha seu nome e indicativo visíveis dentro do aplicativo. Por exemplo, escrevendo "Fulano de tal (indicativo)" como o seu nome. Isso seria um primeiro passo. Além de podermos filtrar rapidamente quem não é radioamador, essa simples medida ajudaria a nos identificarmos mutualmente quando participamos de uma rodada, por exemplo. Veja abaixo como proceder:
2. Utilização de senha
Uma medida um pouco mais eficaz seria utilizar o recurso de senha do aplicativo. Com isso, somente pessoas que a conheçam poderão ingressar num link, solução similar ao SUBTOM, que utilizamos no mundo analógico para diminuir interferências ou dificultar que clandestinos usem nossas repetidoras. Porém, o uso de senha pode tornar-se um problema, pois nada impede que ela seja compartilhada e divulgada, tornando-a, portanto, inócua. Neste caso, a troca de senha também provocaria transtorno, pois os atuais usuários do sistema precisariam ser avisados um a um da mudança.
3. Utilização do recurso "Zelect"
Este é o recurso mais eficaz para garantir um mínimo de segurança a um link. Chama-se "Zelect" e, quando ativado, faz com que as pessoas que entrem no canal só possam falar e ser ouvidas pelos demais participantes após serem APROVADAS. Isso requer um trabalho manual, mas vale o esforço.
Desta forma, qualquer novo usuário que entre pode até apertar o PTT e falar, mas não será ouvir pelos demais, apenas pelos moderadores, que poderão orientar à pessoa diretamente a identificar-se, caso seja radioamador, ou permanecer apenas ouvindo, caso não seja. Para acionar este importante recurso, é bastante fácil. Veja:
3. Utilização de uma placa controladora simples
Há no mercado diversos fabricantes, inclusive radioamadores, que fabricam uma simples placa controladora que fornece a identificação periódica e necessária para que o link seja devidamente e legalmente identificado. Dentre eles, podemos citar a do PY5BK (clique aqui) e a do PY2JF (HAMTRONIX). Ambas permitem inserir o indicativo da estação que será transmitido a intervalos regulares.
Existem soluções "home made" que o próprio radioamador pode construir em casa, se quiser. Por exemplo, este projeto do colega italiano IZ3MEZ é bastante completo.
4. Utilizar um arquivo de áudio tocando em modo repetição no celular
Outra solução, mas que para funcionar dependeria de como o link está montado, seria criar um arquivo de áudio contendo a identificação e mais um período de silêncio. Por exemplo, o sinal em morse ou áudio com o indicativo, mais dez minutos de silêncio em seguida. O arquivo de áudio, portanto, teria pouco mais de dez minutos de duração. É fácil criar este arquivo com algum aplicativo de áudio como o Sound Forge ou o Audacity.
Uma vez criado, o "truque" seria deixá-lo tocando no celular em algum aplicativo de música com a função de repetição ligada. Assim, com o arquivo sendo tocado em segundo plano, o áudio do Zello seria automaticamente mesclado ao áudio da identificação, que seria ouvida a cada dez minutos. Porém, para funcionar, o rádio acoplado ao celular deveria estar sendo acionado por meio do VOX.
Conclusão
Apesar dessas deficiências apontadas neste artigo, novamente afirmamos que o Zello é uma ótima solução para uso pelos radioamadores, mas desde que estas deficiências sejam sanadas. E não é difícil fazer isso.
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Isso está desvirtuando o radioamadorismo do Brasil
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