Por Alisson, PR7GA

O Japão é o país com maior taxa de radioamadores do mundo em relação à sua população. Por lá, o radioamadorismo é incentivado e promovido como um importante recurso educacional e de segurança, dadas as condições das pequenas ilhas que formam o Japão, sempre à mercê da movimentação das placas tectônicas, dos tsunamis e outros desastres naturais.

Porém, o número de radioamadores por lá vem caindo. Assim, o governo japonês decidiu intervir e criar um Conselho Consultivo que visa incentivar a entrada de jovens no Radioamadorismo. Do conselho participam o presidente da Liga de Radioamadores do Japão Yoshinori Takao JG1KTC e o presidente da Associação para Promoção do Radioamadorismo no Japão Tetsuya Miki JA1CIN dentre outros representantes da área de telecomunicações do Japão.

Historicamente, ainda que o Ministério de Assuntos Internos e Comunicações (MIC) do Japão trate o Radioamadorismo da mesma maneira que outros serviços de telecomunicação, como a essência do hobby é experimental e educacional, existe a tendência de que ele deve ser tratado de forma diferente com relação aos usuários de rádio profissionais/comerciais.

Em novembro de 2021, o MIC produziu o relatório "Radio Policy Council in the Age of Digital Transformation" que observa:

  • A população de radioamadores está diminuindo e devemos continuar a atrair novos adeptos por meio de diferentes esforços.
  • Os jovens liderarão o futuro.
  • Devemos considerar a criação de um ambiente que facilite a entrada de novos adeptos no Radioamadorismo.
  • Devemos avançar com os estudos para a criação de um sistema e ambiente que facilite a utilização do rádio, como a promoção de um ambiente experimental/de pesquisa.
  • Devemos agilizar o processo de obtenção da licença de operador de radioamador, promovendo a instalação e operação de estações de rádio.

No relatório, que pode ser lido na íntegra (no idioma japonês) em https://www8.cao.go.jp/kisei-kaikaku/kisei/meeting/wg/econrev/211119/211119keizaikasseika_0402.pdf, são fornecidos interessantes dados estatísticos sobre o atual estado do Radioamadorismo em comparação com a situação do Japão. Juntando estes dados com o estudo produzido pelo Ricardo Benedito PY2QB e publicado pela LABRE ano passado, podemos também comparar com a situação brasileira. Veja:




O Conselho Consultivo realizou sua primeira reunião em 26 de janeiro de 2022, porém ainda não foram divulgadas as primeiras resoluções e ações.


E NO BRASIL?


Por aqui, nada de novo, como diz o adágio "tudo como dantes no quartel de Abrantes". Em que pese o grande avanço trazido pelo início das provas online devido à pandemia, a ANATEL deu "dois passos atrás" ao complicar sobremaneira e de forma inesperada o processo para obtenção de licenças de radioamador. 

Se antes os candidatos precisavam se deslocar até a sede da ANATEL em seu estado (ou de outros, caso de alguns estados do NORTE onde simplesmente não haviam provas há anos) mas apesar dos transtornos saíam de lá muitas vezes com o processo de licenciamento praticamente pronto, só faltando o pagamento das taxas, hoje em dia pode-se fazer as provas no conforto de nosso lar, é verdade, mas após a aprovação os candidatos são submetidos a verdadeiro suplício em meio a QUATRO (!) sistemas diferentes e incompatíveis entre si dentro dos quais são obrigados a realizar cadastros, inserção de documentos, comprovantes, pedidos, etc etc etc. Isso sem falar de certos estados aonde os candidatos demoram MESES (sim... MESES!) até receber alguma resposta da Agência. Há casos de pessoas esperando há OITO meses ou mais para completar o processo e receber a tão sonhada licença. Creio que nem Kafka produziria tal pandemônio.

Mesmo tendo o radioamadorismo provado o seu valor em meio a catástrofes, de sua aplicação como ferramenta educacional, dentre outros exemplos de sucesso, seguimos quase à margem. E poderia ser muito pior, não fosse a atuação da LABRE.

Observem que os números brasileiros relativos ao radioamadorismo são os piores desta lista. Em comparação com os EUA, comparável conosco em população e território, temos quase 20 vezes MENOS radioamadores! Só ganhamos para a China no número de estação a cada 1000 habitantes, ainda que os chineses sejam a nação mais populosa do mundo.

Que bom se tivéssemos o mesmo reconhecimento e apoio por parte das diferentes esferas governamentais brasileiras, não é mesmo?

Não custa sonhar. Enquanto isto, nossa aguerrida LABRE segue defendendo o radioamadorismo brasileiro das ameaças externas e internas.

VIVA O RADIOAMADORISMO!


Fonte:




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