Por David Wise, KM3A. Traduzido por Alisson, PR7GA


Se você gosta de explorar e estar ao ar livre, se aprecia experimentar na radiocomunicação e de fazer parte de uma comunidade ativa e entusiasmada, o programa SOTA pode te oferecer tudo isso e muito mais. 

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Eu sou uma pessoa que gosta bastante de trilhas e caminhadas. No entanto, percebi que frequentemente não tinha comunicação confiável durante as minhas trilhas. Como fuzileiro naval com atuação no Iraque e Afeganistão, costumeiramente eu ajudava na montagem do sistema de antenas de campo e ficava me perguntando se havia uma forma de ter comunicação confiável em minhas andanças como civil. 

A resposta veio quando um amigo me apresentou o Radioamadorismo. Consegui minha licença da classe inicial em março de 2018 e já no verão tinha progredido para a classe intermediária, mas fiquei decepcionado porque meu condomínio não permitia a instalação de uma antena para a faixa de HF. Assim, tive de encontrar outra forma de aproveitar ao máximo as bandas de HF.

Começando no SOTA



Pesquisando na internet, me deparei com o Summits on the Air (sota.org.uk ou no Brasil sotabrasil.com.br; veja também esta matéria que publicamos há alguns meses sobre a estreia de Minas Gerais no programa), um “programa de diplomas para radioamadores que incentiva a operação portátil em áreas montanhosas”. Em suma, o programa concede pontos a radioamadores que vão até o topo de um cume ou montanha determinado e, de lá, fazem pelo menos quatro contatos via rádio – uma atividade conhecida como ativação

Os pontos para ativações variam de 1 a 10, de acordo com a altitude do pico. Pontos também são concedidos aos radioamadores que fazem contato com o ativador, os quais são chamados de caçadores. Os ativadores acumulam pontos para o diploma “SOTA Goat”, enquanto que os caçadores juntam para o diploma “Shack Sloth”. Ambos os diplomas são dados quando se acumulam 1.000 pontos. 

Eu decidi tentar. Pesquisei os cumes locais em sotamaps.org e escolhi Niguel Hill como minha primeira ativação. Esta montanha está indexada no banco de dados SOTA como W6/SC-371. Os cumes SOTA são organizados primeiro por região (W6 = Califórnia), depois por cordilheira (SC = Southern Coastal) e, finalmente, por um número sequencial (neste caso, 371). Niguel Hill é um pico bem acessível: apenas 1 ponto “drive-up”. O acesso fácil me permitiria ter mais tempo para focar no meu equipamento e fazer contatos. 

As duas primeiras ativações 


Em 1º de janeiro de 2019, ativei Niguel Hill, levando um Yaesu FT-817, uma bateria de 10 amperes, uma antena loop magnética, um acoplador de antena, analisador de antena, fones de ouvido e cabo coaxial. Logo percebi que era equipamento demais; no entanto, usando esse setup e com apenas 5 watts (operação baixa potência, conhecida como QRP), fiz contatos no estado de Kansas, Oklahoma [1500-2000 km cada um], Arkansas [2100-2500 km] e Washington - o suficiente para confirmar Niguel Hill como minha primeira ativação oficial de SOTA. 

Nigel Hill no ponto vermelho e os quatro estados norte-americanos contactados


Fiquei tão empolgado que, uma semana depois, ativei o Monte Baldy (W6/CT-003), com cerca de 3000 m de altitude e exigiu uma caminhada de uns 18 km na neve e um ganho de elevação de 1200 m. Com o sucesso em Nigel Hill, ganhei confiança e encarei o esforço físico adicional necessário para chegar ao cume do Monte Baldy. Uma ativação bem-sucedida de inverno nesse pico me daria 11 pontos.

Eu levei o mesmo equipamento da ativação anterior em Niguel Hill; no entanto, não consegui fazer nenhum contato em HF. Minha mochila estava cheia de equipamentos desnecessários, acabei me cansando e tive problemas com a antena loop magnética. Felizmente, usei meu HT para ativar o cume usando a banda VHF de 2 metros. Um dos contatos que fiz foi com Scott Lindquist, NØOI, em Keller Peak (W6/CT-013) — os amantes do SOTA chamam isto de "contato cume a cume".

Lições iniciais aprendidas


Em casa, visitei o QRZ.com para verificar e registrar os indicativos dos contatos que fiz e percebi que Scott tinha experiência em ativações SOTA. Entrei em contato com ele e combinamos de nos encontrar. Ao conversar com Scott, aprendi o seguinte:

  • Rádios para operação SOTA não precisam ser caros. Meu Yaesu FT-817 básico, que comprei usado, foi uma escolha inteligente para SOTA, devido ao baixo custo e alta versatilidade do rádio.
  • Os rádios de baixa potência (QRP) podem ser alimentados por baterias pequenas e leves. Mudei para um pack LiFePo4 (tipo lítio-ferro ou fosfato de lítio ferro) de 4000 mA/H, o que reduziu o peso da minha mochila em quase um quilo.
  • Utilize antenas simples. Um dipolo comum de meia onda alimentado no meio ou na extremidade (end-fed) reduz as possibilidades de falha e o tem baixo peso, porém exige um “mastro” (considere uma vara de pesca de 6 a 10 metros) ou árvore para poder montar.
  • O código Morse, bastante utilizado entre os ativadores SOTA, permite reduzir ainda mais o peso e a complexidade do equipamento.
  • Envie alertas por meio de aplicativos móveis, como SOTA Spotter ou VK port-a-log, via APRS (APRS2SOTA), ou pelo site sotawatch.sota.org.uk antes de partir para sua ativação e solicite spots (informes via cluster que indicam que sua atividade começou) dos caçadores quando estiver no cume. Isso trará os caçadores à frequência aonde você está operando e te ajudará a faturar os quatro contatos que o programa SOTA exige para uma ativação oficial.
  • Prepare-se para as adversidades. A redundância ajuda a reduzir a possibilidade de falha, então considere levar duas baterias e operar em faixas diferentes (VHF e HF). Teste seu equipamento antes de sair.
  • As redes sociais são ótimas para networking. Procure outros amantes do SOTA no YouTube, Instagram, Twitter e na web e considere participar de uma expedição local.

Explorando e aprendendo


Exatamente um ano depois desse pontapé inicial, em janeiro de 2020, eu havia ativado 49 picos SOTA, feito 420 contatos (incluindo muitos com outros países, ilhas e assim por diante, que os radioamadores se referem como entidades DX), caminhei aproximadamente 360 km, ganhei 270 pontos SOTA e, juntamente com outros quatro entusiastas do SOTA (NØOI, N2ZIP, K6LZT e KN6ENX), começamos o grupo SoCal SOTA, com o indicativo AB3G

Embora pelo regulamento do programa os grupos/clubes SOTA não possam acumular pontos, podemos usar o indicativo do clube quando ativamos os cumes. O grupo também permite que os praticantes locais do SOTA planejem em conjunto futuras expedições e incentiva os operadores mais novos a participar de uma expedição para ganharem confiança. 

O programa SOTA oferece infinitas oportunidades para explorar o mundo ao ar livre e experimentar no rádio. As atividades SOTA podem ser definidas com base em suas próprias habilidades, interesses e objetivos pessoais. Uma ativação pode levar 10 minutos ou várias horas, à sua escolha. Você pode fazer contatos distantes ou locais. Você pode ir de carro até um pico ou, se quiser, caminhar vários quilômetros. Não existe uma única forma "padrão" de fazer SOTA. 

Se você gosta de exploração, desafios e de fazer parte de uma comunidade internacional que compartilha este mesmo gosto, o programa SOTA pode ser uma excelente opção para você. Eu já posso dizer que estou "viciado" na atividade. 

SOBRE O AUTOR


David Wise, KM3A, trabalha como investigador de crimes econômicos para o Departamento do Xerife do Condado de Orange, na Califórnia. Ele é um veterano do Corpo de Fuzileiros Navais que serviu no Iraque e no Afeganistão como Técnico de Descarte de Artilharia Explosiva. David é um aficionado em operação portátil e QRP, SOTA, comunicações de emergência e código Morse (CW), e é o atual presidente da SoCal SOTA, AB3G.

David Wise, KM3A





Publicado originalmente na revista "On The Air" da ARRL. 

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