Por Alisson, PR7GA

ATUALIZAÇÃO: A França foi derrotada! Leia clicando aqui.

Temos visto com bastante preocupação a ameaça da França em tomar dos radioamadores a metade da nossa faixa dos 2 metros. Quando foi anunciada, esta proposta previa que a faixa dos 144 a 146 MHz seria destinada ao serviço móvel-aeronáutico em caráter primário, e assim virtualmente expulsando o radioamadorismo de metade da faixa dos 2 metros. Para maiores informações sobre esta proposta absurda, clique aqui, aqui e aqui para saber mais em outras matérias já publicadas no QTC sobre o assunto.

Não é preciso dizer que a reação dos radioamadores a esta infâmia foi de repulsa. Não por acaso, a faixa dos 144-146MHz é a única faixa de radioamador que é aceita e regulamentada a nível mundial, daí, diversas organizações nacionais e regionais mobilizaram seus membros para protestar contra a ameaça francesa. Isto incluiu contestes na Holanda, um fim de semana de "ocupação" da faixa em Portugal, diversos comunicados oficiais por parte da IARU, DARC alemã, ARRL americana, RSGB britânica, da nossa LABRE, sem contar dos próprios  radioamadores franceses, indignados com a proposta de seu órgão regulatório.

É preciso enfatizar que a proposta francesa partiu não dos seus radioamadores, mas do órgão regulatório francês, atendendo a um pedido de uma empresa particular chamada Thales. Inclusive, foi revelado posteriormente que o próprio texto da proposta francesa foi escrito por um empregado da empresa Thales! Presume-se que a razão da escolha justo da banda dos dois metros se deve a uma estratégia simples. Como esta faixa a nível mundial tem uma única destinação, o radioamadorismo, seria fácil também redestiná-la para outro serviço numa só tacada.

No dia 21/08 a França tentou responder aos questionamentos postos, e recuou. Segundo a nova proposta, eles não querem mais a destinação primária, mas um compartilhamento da faixa, argumentando que seria possível que os radioamadores convivessem harmonicamente com seus aviões.

Porém, como se pode observar na figura abaixo, disponibilizada pela DARC, uma simulação de um transmissor de apenas 1W voando a 10km de altura mostra que ele pode ser captado com sinal razoável num raio de até 500km de distância. Imagine 5, 10, 15 aviões voando ao mesmo tempo, e dá pra entender o estrago que iriam causar na nossa faixa, especialmente para quem gosta de testar seus limites em modos de sinais fracos e propagações especiais, como E-esporádica, troposférica ou EME utilizando modos digitais, ou mesmo o bom e velho CW.



Podemos ter uma idéia da intenção de longo prazo da França nesta faixa observando a atitude deles em relação à nossa faixa dos 23cm, de 1240 a 1300 MHz, que pela proposta deles, seria destinada ao uso supostamente compartilhado com os satélites GALILEO. Inicialmente, foi dito que os satélites poderiam compartilhar amigavelmente essa alocação conosco. Porém, agora a França diz que "o uso não regulamentado da banda de 1240 a 1300 MHz pelo serviço amador é uma fonte séria de interferência prejudicial aos receptores RNSS". Jogo sujo.

Supor que o radioamadorismo na faixa de 2m se restringe a repetidoras e HTs revela um profundo desconhecimento das possibilidades que esta faixa oferece, para muito além do alcance clássico restrito à "linha de visada". Como temos destacado em várias ocasiões aqui no QTC, colegas que gostam de ir além do trivial têm conseguido feitos notáveis, incluindo até contatos transatlânticos utilizando antenas e equipamentos comuns. O que não é comum, entretanto, é o "background" de muita pesquisa e aprendizado para tentar entender os processos por trás dos diversos tipos de propagação desta faixa.

A nova proposta francesa será debatida num encontro do órgão que representa os interesses da Europa no tocante às telecomunicações, o CEPT, a ser realizado na cidade de Ancara na Turquia, no próximo fim de semana. Para ser aprovada e seguir adiante para o encontro da ITU, que é o órgão máximo das telecomunicações a nível mundial, a proposta francesa precisa de 10 outros países apoiando-a, e não mais que 6 rejeitando-a.

O órgão regulatório da Alemanha acabou de divulgar um documento mostrando, em detalhes, a impossibilidade de compartilhamento da banda de 2 metros entre o serviço aeronáutico e os radioamadores, rejeitando, assim, a proposta francesa.

EM TEMPO: Após a redação desta matéria, chegou ao nosso conhecimento que ontem, 27/08, a REP - Rede de Emissores Portugueses, em sua página, divulgou um comunicado dando conta de que a proposta francesa teria sido ou seria rejeitada, pois teria a oposição de Portugal, Alemanha, Áustria, Espanha, Finlândia, Lituânia, Noruega, República Tcheca, Rússia e Suécia. Pelas regras do jogo, basta o voto contrário de seis países para rejeitar uma proposta. 

Aguardemos a confirmação desta excelente notícia nos próximos dias!


Fonte: http://www.southgatearc.org/news/2019/august/new-french-cept-paper-still-wants-144-146-mhz-for-aeronautical.htm


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