Você já parou para pensar na largura de banda disponível nas várias bandas amadoras, ou seja, quanto espaço existe em nossas faixas para ser utilizado?
No Brasil, o radioamadorismo começa para a grande maioria das pessoas pela Classe C. Pela legislação brasileira, esta classe tem direito a utilizar todas as bandas amadoras disponíveis, com exceção das bandas de 2200m, 630m, 60m, 30m, 20m, 17m e partes das bandas de 80m, 15m e 40m. Ou seja, o Brasil é um caso bastante incomum no cenário radioamadorístico mundial, pois fora daqui, a classe iniciante normalmente tem muitíssimo menos bandas para usufruir.
Porém, para o que iremos analisar neste artigo, vamos focar somente nas bandas mais utilizadas pelas classes B e C dentre todas as que nos foram atribuídas: 80m, 40m, 15m, 10m, 2m e 70cm. Se somarmos a largura de banda de cada uma dessas faixas, chegaremos no valor de 16.600 kHz de espectro disponível.
Vejamos de outra forma. De todo o espectro disponível de 16,6 MHz, 10 MHz é apenas da banda de 70cm, o que significa que todas as outras bandas juntas cabem quase duas vezes dentro da banda de 70cm. Vou explicar melhor. Se você somar todo o espectro das faixas de 80m, 40m, 15m, 10m e 2m, verá que elas cabem todas dentro da faixa de 70cm, e ainda sobra espaço!
Para quem sabe o que isto significa, este espectro é bastante considerável, mas para quem não conhece, pode parecer muito pouco. Por exemplo, na banda de 40m, durante um concurso é comum a banda estar lotada do início ao fim. Quase não tem espaço suficiente para chamar CQ e não interferir com as outras estações. Porém, o quanto de espaço temos disponível de verdade?
Vamos começar com um sinal SSB, que normalmente ocupa 2,4 kHz de “espaço”. Na banda de 40m, com 250 kHz de espectro para fonia, há espaço para pouco mais de 100 sinais SSB lado a lado. Na banda de 10m, há espaço para mais de 580 sinais SSB diferentes. Em toda a largura de banda disponível para as classes B e C nessas faixas, há espaço para mais de 6 mil sinais SSB diferentes!
Já que a palavra “aglomeração” está sendo muito utilizada ultimamente, vamos falar de FT8, que alguns torcem o nariz. Os sinais em FT8 ocupam apenas 50 Hz e são transmitidos todos no mesmo espaço que ocuparia um único sinal SSB. Isso significa que, “aglomerados” dentro de apenas 2,4 kHz, há espaço para 48 sinais FT8 diferentes e, se você levar em consideração os ciclos de transmissão e recepção pares e ímpares, o número dobra e assim há espaço para 96 sinais diferentes, todos dentro de um único sinal SSB. Portanto, embora o FT8 seja popular e esteja crescendo, seus entusiastas praticamente não estão utilizando quase nada do espaço dentro das faixas, o que mostra o quão eficiente é este modo de transmissão.
Assim, o FT8 está ocupando exatamente seis canais em SSB dentre os mais de 6 mil canais disponíveis nas seis bandas que estamos analisando, o que permite até 576 sinais em FT8 separados, ocupando um total de 14,4 kHz, ou 0,1% do que está disponível no total. Felizmente, este tipo de aglomeração em tão pouco espaço é bastante útil e nada perigosa!
Mas o FT8 não é o único meio de transmitir com eficiência para ocupar todo o espaço disponível. Veja que uma onda portadora é considerado como tendo cerca de 25 Hz de largura apenas, ou a metade do que ocupa um final FT8. Para quem não sabe, o nosso querido e quase bicentenário CW utiliza exatamente uma onda contínua, ou uma portadora, para transmitir seus sinais telegráficos. Assim, dentro dos 10 MHz da banda de 70 cm poderíamos ter 400 mil sinais CW individuais. Em apenas 1 MHz dos 10 MHz disponíveis nessa faixa, poderiam caber TODOS os radioamadores brasileiros transmitindo ao mesmo tempo em telegrafia, sem ninguém interferir com o outro!
Alguém poderia perguntar: qual a relevância disso?
O radioamadorismo é sinônimo de experimentação. Há áreas e temas interessantíssimos para descobrir, como sobre a propagação em HF e o uso do modo FT8 para saber qual a distância que o seu sinal percorre no mundo inteiro. É possível construir uma rede de comunicação em 70 cm com os demais radioamadores em sua cidade e compartilhar informações úteis, talvez até mesmo construir uma rede de dados usando um simples rádio portátil (“baofeng”) e o modo de transmissão JS8CALL. Pode ser usado para distribuir informações de propagação, ou mensagens em caso de emergência, ou mesmo algo completamente diferente.
Se isso não despertar sua curiosidade, considere que a banda amadora de 1 mm, que vai de 241 a 250 GHz, está pronta para você experimentar no Brasil, de acordo com a última norma da ANATEL. O atual recorde mundial de distância nesta banda é de apenas 114 km, estabelecido em 2008 por Brian WA1ZMS e Peter W4WWQ. Esta banda sozinha tem um espectro de incríveis 9 GHz e espaço para 360 milhões de sinais FT8, ou 60 canais FT8 exclusivos para cada radioamador no planeta. E nem falamos de CW...
Em suma, o que gostaríamos que ficasse claro é que, como radioamadores, temos acesso a uma grande quantidade de espectro de rádio e todo este espaço está lá esperando que você faça experiências nele. Vamos começar?
Viva o radioamadorismo!
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Parabéns, Alisson! Nada como usar a ciência para comprovar os fatos. PY2QB
ResponderExcluirParabéns, Alisson! Nada como usar a ciência para comprovar os fatos. PY2QB
ResponderExcluirMuito bom o artigo. Desconhecia essa particularidade sobre o uso das bandas de freqüências a disposição do Serviço de Radioamador. Mny TNX e FRT 73!
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