Muitos são os comentários sobre as ditas “rodadas” ou “ponto de encontros” que ocorrem diariamente nas ondas do rádio. É quase unanimidade que as “charlas” ou “rodas de conversa” ou “tertúlias” ocorrem em todas as faixas permitidas ao radioamadorismo e todas elas são organizadas e realizadas por meio de seus representantes chamados de “comandantes”. Existem algumas faixas que são mais habitadas e com constantes encontros diários: estão nas frequências de 40 metros e 80 metros, amplamente utilizadas por radioamadores licenciados. Existem também as “rodadas” clandestinas que diariamente encontramos e que são realizadas por radioperadores clandestinos (e, pasmem, radioamadores também!) conhecidos como “faxineiros” ou operadores da “faixinha”, que são muito atuantes no Brasil. Muito se fala nas rodadas, porém, muito pouco se fala destas rodadas. Pretendemos expor alguns motivos para participar das “rodadas legais” como forma de seguir o bom e velho ditado “radioamadorismo é serviço, história e amizade”.

Onde estão as rodadas?


A existência das rodadas tanto nas faixas oficiais quanto nas faixas clandestinas é sabida por todos os radioamadores desde os iniciantes até os mais experientes, afinal, a rádio escuta é amplamente praticada ao redor do mundo e um bom radioamador deverá fazer minimamente uso desta possibilidade em sua ação cotidiana. Durante a execução da atividade de escuta muitas vezes “passeamos” desde as faixas oficiais de radioamadores até as faixas que apenas nos são permitidas a escuta e, ali, encontramos muitos operadores clandestinos atuantes.

Nos últimos tempos tenho observado um aumento exponencial dos operadores clandestinos nas faixas permitidas ou não permitidas para os radioamadores. Ninguém se importa muito em se perguntar ou mesmo “assuntar” sobre este tema. Creio um dos grandes motivos deste problema é a crença em uma pseudo-verdade de que é quase impossível realizar provas para o serviço de radioamador, compreendidas da classe C ou mesmo classe B, classes estas que contém grande número expressivo de operadores vorazes e com gana de operar o rádio em qualquer faixa, sejam elas oficiais ou mesmo clandestinas. Quando se trata da classe A o assunto ainda fica pior, visto que uma grande parcela dos operadores que possuem a classe máxima do radioamadorismo operam com tanta pompa que ao invés de incentivar os demais radioamadores, acabam por criar quase uma Muralha da China com os demais radioamadores de classes com menos direitos.

Creio que o motivo principal dos cidadãos envolvidos com as transmissões clandestinas, porém, seja o fato decorrente da preguiça do brasileiro em estudar. Quando os radioamadores mais experientes tratam deste tema é unânime que todos tiveram que despender muito tempo estudando para realizar as provas da Anatel e, muitas vezes, a aprovação dependeu de mais de uma tentativa. Assim, muitos radioamadores tornam-se os guardiões das faixas oficiais sempre tratando a clandestinidade com muita seriedade. Muitos dos clandestinos abominam esta situação, porque às vezes, os radioamadores são enérgicos e cirúrgicos em seus apontamentos. Aqui não estamos tratando de hierarquia, mas sim, de um direito adquirido ao realizar as provas com o intuito de usufruir de um serviço devidamente licenciado que pode ser operado pelos permissionários do serviço de radioamador. No entanto, mesmo com o tal do direito adquirido em poder operar nas faixas permitidas não pode de maneira alguma ser motivo para desmotivar os demais e também não deveria ser considerado um prêmio a alguns poucos eleitos. Penso que quem quer, quem deseja, quem tem vontade, consegue facilmente a aprovação nas provas da Anatel.

Fato é que para ingressar ou promover de classe a regra de ouro é: estudar! Não há outro caminho a ser percorrido que não seja estudar (e estudar muito!) para que sua licença almejada seja conquistada. É difícil, é! Demanda tempo, sim! É possível passar? Claro! Existem muitos materiais disponíveis em vários formatos, sejam publicações, comentários, vídeos, áudios, etc. O postulante ao radioamadorismo deve apresentar uma característica importante para ingresso: ter vontade e dedicação para procurar, estudar e realizar as provas. Portanto, queremos que os habitantes das faixas oficiais sejam sempre radioamadores devidamente licenciados junto à Anatel. Acho que temos alguns caminhos apontados aqui. Existem tantos outros. E a curiosidade que aquece o coração dos radioamadores? E busca constante por aprender e conhecer melhor nosso hobby? Paira no ar uma última pergunta a qual eu não tenho resposta: "Por qual motivo os operadores clandestinos não se tornam radioamadores e habitam as faixas permitidas para o uso do radioamadorismo?"

Quem faz as rodadas?


Quando pensamos em rodadas e sua escuta periódica poderemos ter alguns resultados interessantes que são encontrados e podem servir de subsídio para que o radioamadorismo continue atuante e seja fortalecido à medida que mais pessoas vão ingressando em nosso hobby.

Muitas radioamadores são responsáveis pela manutenção das rodadas e reconhecemos que é um esforço sobre humano tratar de um tema tão importante estando sempre à disposição dos amigos para articular, coordenar e continuar com as rodadas. É importante enaltecer que sem estas pessoas certamente o radioamadorismo não seria o mesmo no Brasil, dado que o bom brasileiro, em grande medida, adora uma rodada, seja ela local, regional ou nacional.

Atualmente não é redundante dizer que os radioamadores (e radioescutas) não precisam mais necessariamente terem seus equipamentos para realizar esta tarefa. Com o advento dos SDRs no Brasil é possível praticar a radioescuta por meio de recursos virtuais que estão disponíveis na internet. Um dos mais populares é o SDR Pardinho que fica a disposição de todos online e é amplamente utilizado para várias finalidades dentre as quais a rádio escuta é amplamente praticada.

As rodadas têm um outro lado técnico que é importante: quando se inicia no radioamadorismo nem sempre temos conhecimento técnico suficiente, além de materiais ou mesmo de amigos perto para alguma consulta sobre compra de equipamentos e construção de antenas. Fato é que os comandantes sempre ajudam os postulantes a organizarem minimamente suas estações, com a ajuda de todos os participantes, para que o noviço possa se fazer presente sempre que deseja ou tenha propagação.


As vantagens de uma rodada


Quando tratamos do tema “rodada de rádio” a pergunta inevitável e que surge no primeiro minuto é a seguinte: “Para que servem estas rodadas?” Pensando em responder esta questão, tratei de procurar alguns bons motivos para realizar a defesa deste modo de comunicação que congrega os amigos de diversas partes do Brasil e do mundo. Claro que a crítica dirá que é uma perda de tempo escutar as rodadas disponíveis nas faixas do radioamadorismo e outros tantos radioamadores me condenarão por gastar tempo escrevendo algumas linhas sobre as rodadas. Porém, faz parte do radioamadorismo tal modo de comunicação e a tradição das rodadas é algo que sustenta o radioamadorismo brasileiro.

Quando pensamos em aprendizado devemos considerar que aprendemos muito com os acertos, porém, os erros também devem ser considerados no processo. Então, caso este artigo seja considerado pelo leitor um erro o considerarei como um acerto também! Simples! E quem se pôr contra o que aqui está escrito tenha coragem para rabiscar sua defesa pessoal pelo tema. Não há nada melhor do que ler uma tese bem fundamentada!

Eu particularmente vejo muitas vantagens das rodadas. Vou citar dentre elas apenas três que eu considero muito importantes para o radioamadorismo. O leitor atento poderá completar esta lista com outras vantagens que possa considerar importantes. Vamos conhecê-las?

A primeira vantagem das rodadas, que eu considero fundamental para radioamadores iniciantes (e também os mais experientes!) é a possibilidade de escutar estações próximas e quando tivermos boa propagação estações mais longínquas. Isto é fundamental quando se está fazendo a instalação de sua primeira antena(para os iniciantes) ou mesmo uma nova antena(para os experientes). Quando se está instalando ou mesmo configurando um rádio ou uma antena é imprescindível que tenhamos sinais para se ouvir. Caso a escuta seja confirmada já contamos com bons indícios de que nossos esforços para iniciar a montagem ou manutenção da estação estão validados.

A segunda vantagem que encontro nas rodadas de HF é o fato de que o radioamador se esforçou para comprar um equipamento de rádio capaz de lhe fazer ampliar os horizontes. É sabido que para termos um rádio de VHF basta realizar um brique bem feito, ajudar alguém em troca de um serviço ou mesmo trocar por outro equipamento. No caso de um rádio com condições para HF o esforço deve ser maior, pois, a quantia de QSJ que o radioamador tem que ter em mãos é considerável. Fato é que vale o esforço! Afinal, como bom brasileiro e como diz a canção do Cazuza “quem acredita sempre alcança!”.

A terceira vantagem das rodadas é que o radioamador é incentivado a estudar, testar antenas e melhorar o conhecimento para realizar as promoções de classe. Grande parte dos radioamadores ingressam no radioamadorismo pela classe inicial, conhecida como Classe C, e outra parcela de radioamadores iniciou diretamente na classe B. Há ainda a classe A que para muitos parece um sonho distante, porém, o esforço é proporcional às demais classes, com suas dificuldades intrínsecas. Lembro que a curiosidade deve ser a energia que conduzirá o radioamador neste caminho difícil, porém, não impossível!

Finalmente, vale ressaltar que esse movimento de aprendizado é constante e nunca mais cessa na vida de um radioamador. Há quem diga que um “homem contaminado com RF nunca mais será o mesmo”. Eu adicionaria uma outra frase que é super importante e é simples de entender: “Chá de monotonia uma hora fica amargo!”. Quem gosta de radioamadorismo, conversa, história, tradição, elementos técnicos, testes e mais testes, antenas, transceptores, etc., nunca mais permanecerá com a mente em seu estado original. Segundo os entendidos, "radioamadorismo é uma cachaça: quem prova nunca larga!”.

Estilos de rodadas


Existem diversos estilos e modos nos quais podemos classificar as nossas queridas rodadas realizadas no Brasil. De norte a sul ou de leste a oeste encontramos rodadas nas mais diferentes esferas do radioamadorismo brasileiro: existem rodadas nas bandas de VHF, UHF e HF nos mais diferentes modos, tais como analógicos, digitais, código Morse, fonia, etc. Vocês já se perguntaram o que todas elas têm em comum ou o que difere uma da outra?

Um dos atributos encontrados nas rodadas brasileiras comum a todas é que existe o chamado “comandante”. Existem rodadas nas quais a figura do comandante é fixa e em outras o comandante é volante, isto é, a cada edição da rodada um novo comandante assume conforme a regra constituinte do bate papo. Algumas rodadas inclusive tem um comandante perpétuo que incorporou à sua estação a rodada como se fosse a extensão do seu shack. Indubitavelmente estes são nossos radioamadores mais guerreiros que conhecemos. É claro que os esforços para manter as rodas de bate-papo com comandos itinerantes também possuem seu mérito, já que estar com “os pares” requer grande habilidade na gestão de todo o processo.

Rodada Padre Landell de Moura


Uma das rodadas que eu mais admiro e gosto de escutar e que acredito ser a mais democrática de todas é a “Rodada Padre Landell de Moura” que vai ao ar durante a semana na faixa dos 80 metros. Esta rodada é uma das mais tradicionais e está no ar há muito tempo. Ela possui um estilo bem diferenciado que é mantido por um conjunto de regras bem definidas. Para além das regras é importante enaltecer a energia positiva de todos os comandantes que participam diariamente da rodada. É importante frisar que a Rodada Padre Landell de Moura é guiada por um comando itinerante, isto é, a cada dia a rodada possui um comandante diferente que atua de um lugar diferente.

Para além disso, a rodada ainda conta com sua confortável “poltroninha virtual” que é um modo interessante de participação da rodada: quem deseja participar deve aguardar o câmbio de anotação das estações para realizar seu anúncio de participação. Após, o comandante do dia confere à estação anunciada o número da inscrição do dia e segue a rodada chamando a ordem de “poltronas” de acordo com a chegada. Esta rodada não é uma rodada de bate-papo tradicional, embora entre um ou outro comunicado sempre podemos escutar aquele abraço fraterno e afetuoso trocado pelos participantes entre uma e outra passada de câmbio. Vale ainda dizer que esta rodada possui um ponto que eu valorizo muito: Quando temos estações YL (A presença das radioamadoras) elas são atendidas com prioridade cujo objetivo é manter a cordialidade com as nossas radioamadoras que se fazem presente na rodada. Quer participar? Sintonize seu equipamento em 3725 MHz por volta das 18 horas, horário de Brasília, te abanca, puxa teu chimarrão/café/chá e ouça uma lindíssima rodada ao som de um “Salve Landell de Moura, Comandante”!

Rodada dos Desantenados


O nome é sugestivo, porém, de desantenados a gurizada não tem nada. Entre um e outro câmbio se “crava o facão no toco”, sempre se consulta a situação de uma estação perguntando se “tudo está carburando”. Assim a rodada intitulada “desantenados” vai ao ar diariamente na Conferência Gaúcho e Conferência Paraná em VHF através do sistema Echolink. Nesta rodada não existe comando fixo e não existem muitas regras. A regra elementar é prosear com a turma de forma pacífica (com o armamento na guaiaca, tchê!).

Brincadeiras à parte, esta rodada é muito interessante e permeada de assuntos que vão além do cotidiano. Aqui entre um teste de antenas, uma aferição de onda estacionária, uma configuração de algum equipamento encontramos uma roda de amigos que mantém à risca a arte da manutenção da amizade por meio das ondas do rádio. A rodada é tradicional, assim como uma roda de chimarrão no início de cada manhã, faça chuva ou faça sol.

O início da rodada coincide com a alvorada: de segunda à segunda encontramos uma charla buena e é possível "se antenar" às mais diversas informações do cotidiano, passando por efemérides e terminando com notícias importantes tais como a situação atual do radioamadorismo e apontamentos sobre os caminhos futuros. Tudo isto permeado de um bom sotaque gaúcho, um pouco de erva mate nos conectores e muita alegria em comunicar. 

[Nota do editor: Claro, existem inúmeras outras rodadas, sejam recentes ou tradicionais, espalhadas pelo Brasil afora. Na sua região há uma? Coloque nos comentários o nome dela e a região!]

Conclusão


Fundamentais e disponíveis para todos os gostos, as rodadas fazem parte do radioamadorismo brasileiro. Além de gosto e hábito de participar há quem diga que as rodadas de nada servem. Como radioamador respeito a opinião de quem não aprecia ou não encontra vantagem alguma nas rodadas. Eu simplesmente adoro escutar. Se der para participar melhor ainda!

Gostaria de aproveitar este artigo para agradecer aos radioamadores que mantêm as rodadas em nosso país continental. Existem muitas, mas muitas rodadas tradicionais e que mantêm as frequências povoadas e cheias de radioamadores realizando transmissões, trocando figurinhas, ensinando uns aos outros e mantendo o radioamadorismo a todo vapor. A quem ainda não participou de alguma rodada fica meu convite. "Coruje", aprenda mais sobre a cultura local, sobre o radioamadorismo, faça amigos, enfim, torne seu dia mais agradável ao som de uma boa rodada. Encontro você, caro leitor, em alguma rodada diária!

Forte 73 
Alexandre Klock Ernzen 
Sulina - PR


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1 Comentários

  1. RODADA RANCHO DA AMIZADE EM VHF REPETIDORA DE ITAPECIRICA DA SERRA 146610 TODOS OS DIAS DAS 19:30 AS 22:00 HS DE SEGUNDA A SABADO , EM DMR TODAS AS SEXTAS DEIRA DAS 18:00 AS 0:00 HS NO TG 7244 REGIAO SUDESTE , TRANSMITIDA AO VIVO PELO YOU TUBE NO CANAL DO RANCHO DA AMIZADE , AGORA PELO ECHOLINK ( RANCHO DA AMIZADE ) .

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