Aqui no QTC da ECRA temos divulgado diversos feitos históricos e incríveis da turma que gosta de DX nas bandas altas, como VHF e UHF. Em comum, todos estes colegas têm investido no estudo, na preparação e melhoramento de suas estações, incluindo pesquisa em antenas cada vez mais eficientes, de forma a vencer tão grandes distâncias. Porém, a chave para alcançar feitos como os registrados por estações como D4C de Cabo Verde não está na tela de seus rádios ou analizadores de antenas, mas no estudo e observação constante das condições da propagação.

Nas bandas de HF, a propagação é dada basicamente pelas condições da ionosfera, e esta por sua vez é formada pela radiação solar que atinge a Terra vinda das manchas solares. Já nas bandas altas, a propagação é ditada na maioria das vezes pelo clima e variações do tempo na atmosfera. Por isso, os DXistas das bandas altas observam com muito carinho as previsões de tempo, pois elas podem indicar uma bela abertura de propagação.

Porém, nos últimos tempos, os radioamadores têm observado também um sistema de radiocomunicação utilizada por barcos de todo o mundo como um elemento valiosíssimo para avaliar as condições sobre a banda de dois metros: é o AIS, ou Sistema de Identificação Automática.
O sistema AIS. Cada barco transmite dados sobre si mesmo para os demais, possibilitando "ver" onde cada um está e para onde está indo

Ele consiste em um transceptor que opera na faixa de 162MHz recebendo e transmitindo dados sobre posição, rota e velocidade dos barcos, entre outras informações. Em cada navio ou barco, a parte de RF é igual: 12,5 watts de potência e uma antena plano-terra. Cada transponder recebe e envia dados continuamente, o que forma uma grande rede com os dados dos barcos num raio de 100 milhas náuticas, ou cerca de 180km.

Qual a utilidade deste sistema para nós, radioamadores? Para os dados transmitidos, nenhuma, a não ser mera curiosidade de saber. Porém, observando o alcance destes sinais, o radioamador pode saber, em tempo real, como está a propagação em qualquer lugar do mundo onde exista um barco com este sistema. É como ter beacons distribuídos de forma mundial, e todos operando simultaneamente.

A observação dos sinais AIS foi o que ajudou a estação mundialmente famosa e Cabo Verde, D4C, a quebrar o recorde de distância de QSO várias vezes em meados de 2018. Como exemplo, em 05 de agosto de 2018, um contato em CW entre D4Z e EI3KD (Cabo Verde-Irlanda) marcou uma distância de 4163 km. Algumas semanas depois, em 25 de setembro de 2018, o recorde foi quebrado novamente quando D4Z fez contato com G3SMT (Inglaterra) em CW. Distância: 4436km.

Para receber e utilizar os sinais AIS, Cabo Verde tem um receptor deste sistema funcionando 24h por dia. Isto permite ver as condições de propagação em tempo real, e quando uma abertura ocorre, eles vão para o rádio e começam a transmitir. Havendo alguém do outro lado do Atlântico ou em qualquer outro lugar que consiga ouvir a chamada, o contato é feito.

Isto é radioamadorismo!!!!

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